Queridxs galeristas, curadorxs, editorxs, diretorxs, e tantxs outrxs que nos empregam,
Os procedimentos de emergência estão sendo tomados em resposta ao coronavírus COVID-19.
Vocês tiveram que cancelar conferências, feiras, estreias, festivais ou apresentações.
Para vocês, é uma decepção: isso significa que um projeto artístico não chegará à sua existência, isso significa anos de trabalho sendo perdidos, e vocês estão vendo financiamentos significativos sendo jogados pela janela…
Provavelmente vocês foram solicitadxs que trabalhassem de casa ou foram obrigadxs a entrar em licença remunerada.
Então, por favor, lembrem-se que a situação das pessoas que estariam nesse momento trabalhando para vocês é muito pior.
Toda vez que vocês suspendem o contrato de artistas, escritorxs, provocadorxs, tradutorxs, não há seguro desemprego ou compensação, muito menos licença remunerada. E se estamos nos Estados Unidos, parte da União Europeia ou parte da América do Sul, é provável que nem tenhamos plano de saúde ou seguro saúde.
Nesse contexto de uma economia em recessão (ou em qualquer contexto), sempre que vocês mudam os planos de última hora e todxs à sua volta precisam se adaptar, não há a possibilidade de que encontremos uma reposição dessa renda. Provavelmente em alguns casos nós mesmxs optamos pelo cancelamento, sendo forçadxs a ficar em casa ou divididxs entre pagar o aluguel e cuidar das pessoas queridxs.
Como sempre, os grupos mais vulneráveis e precários são os que mais sofrerão.
Sigam, cancelem tudo, façam o que tiverem que fazer pelo bem da saúde das pessoas e também paguem todxs agora.
Seus orçamentos já estavam aprovados, e é até possível que vocês economizaram milhares em reembolsos de transporte cancelados, cancelamento de impressão gráfica e champagne.
Portanto agora, paguem xs guardas de segurança, paguem artistas, paguem diretorxs de palco, paguem palestrantes, paguem educadorxs, paguem designers gráficos, paguem editorxs, paguem equipe de limpeza, paguem dançarinxs, paguem assistentes de sala, paguem elenco, paguem equipe técnica, paguem escritorxs, paguem musicxs, paguem distribuidorxs, paguem tradutorxs.
Paguem todxs.
Não é sobre o quão generosxs ou o quão gentis vocês são. Nós precisamos mudar um modelo econômico que claramente não funciona.
Vocês confiaram por muito tempo na flexibilidade que acompanha o nosso status de autônomxs. Sem contratos empregatícios, sem plano de saúde, sem direitos trabalhistas, sem pagamentos de multas, sem impostos. Bastante conveniente! Agora, a atual crise do coronavírus está expondo esse sistema unilateral em que sabemos há muito tempo que é errado. Trabalhadorxs com carteira assinada – um “privilégio” nos dias de hoje, mesmo quando mal pagxs – são protegidxs pelo o que resta no Estado da política de bem estar social. Aquelxs que não têm carteira assinada, aquelxs que não têm opção à autonomia, não têm proteção.
Os sistemas de bem estar existem para diminuir a dependência dxs empregadxs daquilo que é tido como a generosidade dxs empregadorxs: se elxs ficam doentes, se a economia entra em recessão, esses sistemas provém uma proteção, uma rede de segurança, ainda que frágil. Trabalhar como autônomxs não significa que temos mais liberdade, de forma alguma: significa que dependemos de vocês e que carregamos nisso todos os prejuízos e respondemos por todos os riscos.
Já que vocês nunca quiseram cobrir os custos do nosso bem estar, vocês devem agir como o nosso sistema de bem estar social nesse momento.
Hoje, assumam suas responsabilidades e paguem todxs, para que assim possamos sobreviver até a nossa próxima colaboração.
Amanhã, assumam suas responsabilidades e sejam a mudança, revertam esse sistema falido e injusto.
Traduzido por Elefante (instagram: @elefantenoenvelope)